No Brasil, como na Europa, os últimos anos nos confrontam com a emergência de uma nova fase dos laços entre política e religião. Esses laços são visíveis no Brasil, se prestamos atenção as diversas formas de pressão exercidas por grupos neopentecostais. O “grupo da Biblia”, por exemplo, elegeu um de seus representantes, que como presidente da Câmara vetou novas leis.
Na Europa pensou-se que a religião não mais poderia, nas sociedades contemporâneas, organizar realmente a realidade social, e em particular a política. O desenvolvimento de correntes fundamentalistas em diferentes monoteísmos – frequentemente em formas violentas – põem em questão um “retorno do religioso”.
Notemos a este respeito que uma aproximação com as religiões de origem afro-brasileira permite fazer contraponto aos estudos das formas mais contemporâneas da politização dos grandes monoteísmos. O tambor de mina, a religião afro-brasileira do Maranhão, ou ainda a Umbanda e o Candomblé, o Batuque e o Terecô constituem referências politeístas importantes em relação às intolerâncias que se difundem em nome de um Deus único.
Acrescentemos que os fenômenos coletivos organizados por diversas religiões tem consequências ao nível da subjetividade dos indivíduos eles mesmos. Esse é um ponto essencial a ser examinado, sem esquecer que o pesquisador não pode se definir como totalmente exterior as questões que ele coloca. Tentaremos, nesse colóquio que reunirá antropólogos e psicanalistas, responder a várias questões essenciais: as religiões podem ser reduzidas as atividades que reúne os fiéis e seus chefes no templo religioso ou se sobressaem delas outras esferas como política, economia, educação, etc.? Quais seus efeitos na subjetividade contemporânea? Que papel tem a religião nos processos de precarização, no risco e\ou inseguridade ontológica, que marca as relações sociais que diversos sociólogos constatam hoje?