programa
É fato que a prescrição e o uso de medicamentos psicoativos cresce de forma exponencial. A lógica que subjaz a esta expansão reúne medicina, neurociências e indústria farmacêutica em moto contínuo: quadros diagnósticos são redefinidos pela psiquiatria (DSMs) à luz dos testes empíricos com moléculas que saem do laboratório, a partir do que as indicações de tratamento se expandem e se legitimam. O resultado vem ao encontro dos anseios vários, sejam o de aplacar o sofrimento psíquico, sejam o de instituir regimes de super-desempenho, individual e coletivo.
Já não se trata de oferecer soluções para as grandes patologias clássicas, nem de normalização se trata, mas algo além; alguns autores falam de uma “estilística” da existência e dos comportamentos, criada a partir dos psicofármacos.
Um exemplo é a mudança do discurso acerca do uso de antidepressivos. Eles têm sido promovidos a “moduladores” da vida emocional/subjetiva, como a justificar formas brandas de medicalização e a sua manutenção em doses pequenas, por longos períodos, senão por toda a vida. Algo parecido está ocorrendo com a Ritalina e outras drogas associadas ao ganho intelectual-cognitivo (neuroenhancement).

São temas que concernem à interface da Psicanálise e aqui servirão para que formulemos as seguintes questões:
1. Em que condições se dá a cooperação eventual e necessária entre processo analítico e farmacoterapia?
2. Devemos pensá-la, preferencialmente, para os quadros graves (psicoses, adoecimentos borderlines e psicossomáticos)?
3. Com quais desafios éticos, impasses e oportunidades se depara a clínica da subjetividade quando o uso de medicamentos concorre para reduzir sua potência transformadora?